Falar em doenças prostáticas, como a Hiperplasia Benigna da Próstata (HBP), pode ser um assunto sensível para muitos homens – primeiro, porque são muito frequentes, e depois porque podem provocar queixas que afectam o seu modo de vida de forma negativa.
É por isso que é importante desmistificá-las e saber mais sobre elas, para que os homens possam pedir ajuda sem constrangimentos e resolver, se possível, o problema.
É neste sentido que hoje reunimos para si algumas perguntas frequentes sobre Hiperplasia Benigna da Próstata.
1. O que é a Hiperplasia Benigna da Próstata e o que provoca?
O aumento do volume da próstata é o que caracteriza esta patologia benigna. De modo geral, este fenómeno surge na designada zona de transição, que circunda uma parte da uretra. Assim sendo, quando a hiperplasia ocorre, este canal por onde passa a urina sofre uma compressão, obstruindo o seu fluxo.
Em simultâneo, ocorre geralmente uma dificuldade de abertura da união da bexiga com a uretra, impedindo que o calibre da uretra atinja a dimensão forma normal para urinar de modo adequado.
Daqui resultam os sintomas urinários (conhecidos como LUTS – Lower Urinary Tract Symptoms, ou seja, sintomas do aparelho urinário inferior) que, na maioria dos casos, tendem a agravar com o passar da idade e o progressivo aumento de volume prostático. Podem dividir-se em três grupos principais:
- Enchimento: vontade miccional súbita, incapacidade de reter a urina aquando dessa vontade, aumento da frequência das micções, urinar de noite e sensação de peso na zona abaixo do umbigo;
- Esvaziamento: atraso no início da micção, esforço para urinar, ardor ou desconforto miccional, aumento do tempo miccional, incontinência urinária (sobretudo durante a noite), incapacidade de esvaziar a bexiga e jacto fraco, fino ou intermitente;
- Pós-miccionais: gotejo pós miccional e sensação de esvaziamento incompleto.
Ainda que estas sejam as queixas mais frequentes, também é possível ter Hiperplasia Benigna da Próstata e não existir sintomatologia significativa, em especial numa fase inicial da doença.
2. O que está na origem desta patologia?
Durante a vida, as células da próstata, assim como as do resto do organismo, vão morrendo, à medida que outras se vão reproduzindo, substituindo-as. Em condições normais, este processo é equilibrado. Todavia, num quadro de HBP, o mesmo sofre alterações, levando a que o número de células prostáticas aumente, repercutindo-se no seu tamanho.
As causas deste fenómeno são ainda desconhecidas, apesar de se saber que alguns factores aumentam o risco de desenvolver esta doença, entre os quais:
- Idade avançada;
- Presença de testosterona – este parece ser um dos factores principais, já que esta hormona é responsável por estimular o crescimento das células da próstata;
- Histórico familiar de elevado volume da próstata, sobretudo em parentes ainda jovens;
- Dietas pouco saudáveis – pois provocam alterações corporais que potenciam a HBP.
3. Qual é a frequência da HBP?
Entre as patologias que afectam a próstata, esta é a mais frequente em homens adultos, sobretudo nos que apresentam um dos factores de risco ou até vários. Aliás, evidências mostram que a prevalência da Hiperplasia Benigna da Próstata ultrapassa os 50% aos 60 anos, podendo atingir os 90% aos 85.
Destes números, uma grande parte apresenta sintomatologia – cerca de 25 a 30%.
4. A Hiperplasia Benigna da Próstata aumenta a probabilidade de Cancro da Próstata?
A resposta é negativa. Contudo, são patologias que se podem relacionar em alguns aspectos e existir simultaneamente, o que poderá estar na origem desta dúvida.
É verdade que são processos distintos: a HBP, como vimos, costuma desenvolver-se na zona de transição e os tumores malignos tendem a surgir na zona periférica. Ainda assim, uma pequena percentagem dos cancros pode ocorrer na mesma região da HBP – cerca de 10%.
Além disso, partilham alguns factores de risco, como a idade avançada e a presença de testosterona, assim como determinados sintomas urinários.
Mais: grande parte dos pacientes com cancro também sofrem um aumento da glândula por acção contínua da testosterona, podendo as duas patologias ocorrer ao mesmo tempo.
Contudo, deve saber que o Cancro da Próstata não é uma consequência da Hiperplasia Benigna da glândula, nem aumenta a sua probabilidade.
5. Como saber se a sua Próstata aumentou de tamanho?
Os sintomas urinários provocados pelo aumento da próstata são característicos da doença, mas não são exclusivos da mesma – outras condições podem levar ao seu aparecimento, como por exemplo tumores na bexiga ou na próstata, estenoses da uretra, toma de certos medicamentos, intervenções cirúrgicas anteriores, entre outras.
Assim sendo, é fundamental perceber se estamos perante um caso de Hiperplasia Benigna da Próstata, pois só assim é possível tomar os passos seguintes adequados. A única forma de o conseguir é através de um diagnóstico profissional e completo, que se divide em várias práticas e pilares básicos:
- História clínica dos pacientes: quanto a intervenções e doenças anteriores, avaliação dos seus sintomas, se existirem – quais se manifestam, a partir de que altura, com que frequência, impacto que provocam na qualidade de vida -, e ainda hábitos de vida praticados;
- Exame objectivo, recorrendo ao Toque Rectal para palpar e avaliar as características da próstata, identificar o seu aumento de tamanho e excluir a presença de tumores, ao exame abdominal e ao exame neurológico localizado;
- Exames complementares para clarificar o diagnóstico e caracterizar a doença, em casos suspeitos de HBP pela avaliação prévia, seleccionados em função das características de cada paciente. Os mais habituais são: análise ao sangue (PSA) e à urina, ecografias aos rins ou bexiga, urofluxometria, endoscopias à uretra e bexiga e estudo urodinâmico completo.
6. É possível tratar?
Hoje em dia existem várias medidas terapêuticas disponíveis que permitem retirar ou destruir o tecido prostático em excesso ou, pelo menos, controlar os sintomas.
O primeiro grande grupo diz respeito à Terapêutica Médica, onde se usam substâncias farmacológicas que podem ser ajustadas ao longo do tempo. De forma geral, fazem parte dos seguintes conjuntos:
- Alfa-bloqueantes: relaxam os músculos da próstata, bexiga e em redor da uretra, reduzindo a obstrução que dificulta a passagem de urina. Assim, melhoram o fluxo miccional. São indicados para graus de doença moderados a elevados;
- Inibidores da 5-alfa redutase: inibindo a produção de testosterona, provocam a atrofia da glândula prostática, reduzindo o seu volume e, em consequência, os sintomas. Por isso, são reservados a próstatas muito grandes;
- Fitoterapia: usando extractos de plantas, pode ser útil em certos casos, em especial os mais ligeiros ou moderados.
Existem ainda outros métodos, mais ou menos invasivos, que requerem uma intervenção médica, podendo ser usados, por exemplo, quando a medicação é ineficaz. São cada vez mais aperfeiçoados para conferirem o máximo de comodidade e eficácia aos pacientes e o mínimo de efeitos secundários e complicações. São eles:
- Rezum: usando agulhas especiais, transmite doses controladas e direccionadas de energia térmica através de vapor de água, destruindo as células responsáveis pelo aumento de volume da próstata;
- Laser: destrói o tecido prostático em excesso ao utilizar uma fonte de energia laser, através de um equipamento introduzido pela uretra;
- Cirurgia Endoscópica: divide-se em vários métodos, dependendo do tamanho da próstata, para retirar a parte da glândula em excesso, fragmentando-a e removendo-a por via endoscópica pela uretra;
- Cirurgia Laparoscópica: com pequenas incisões na região inferior do abdómen por onde passam instrumentos para remover a parte aumentada da próstata.
Além destas técnicas, existe ainda a possibilidade de realizar uma cirurgia aberta, num método mais clássico, incisivo e agressivo. É por isso que é reservada para situações específicas que inviabilizem as outras opções de tratamento.
7. Todos os casos precisam de Tratamento?
Se a sua próstata aumentou de tamanho mas não tem sintomas, ou estes são pouco incomodativos, sem repercussões graves na qualidade de vida, pode dispensar o tratamento, desde que acompanhado por um médico especialista.
Nesses casos, os pacientes permanecem em vigilância regular para monitorização da evolução da doença e determinar o momento em que é necessário instituir tratamento, caso se revele necessário.
É de destacar que - ainda que seja comum os sintomas agravarem de forma progressiva com o avançar da patologia -, evidências mostram estes podem estabilizar e que cerca de 1 em cada 3 homens com Hiperplasia Benigna da Próstata podem até sentir uma melhoria na sintomatologia com o tempo, de forma espontânea.
8. Qual o risco de não tratar a Hiperplasia Benigna da Próstata?
Como vimos, ainda que determinados quadros precisem apenas de ser vigiados, outros precisam de tratamento. Nestes casos, adiá-lo ou dispensá-lo pode trazer consequências. Quais?
Primeiro, os sintomas podem, com o tempo, revelar-se bastante incomodativos e limitantes. Para doentes com HBP moderada a grave, cenários como evitar ir a lugares sem casa de banho ou fazer viagens longas ocorrem com frequência. Por isso, iniciar um tratamento é o melhor caminho para recuperar a qualidade de vida que perdeu.
Mas, além das repercussões negativas no bem-estar, os casos não tratados a longo prazo podem evoluir para outros quadros clínicos, por vezes mais graves, como por exemplo:
- Retenção urinária (com necessidade de algaliação);
- Litíase Vesical (na bexiga);
- Hidronefrose (dilatação dos rins);
- Insuficiência renal crónica;
- Infecção urinária recorrente;
- Aparecimento de sangue na urina.
9. Uma Próstata aumentada de volume pode ter efeitos na função sexual?
Deve saber que a alteração das funções sexuais, no que respeita ao processo ejaculatório, capacidade de erecção e líbido, não é causada pela Hiperplasia Benigna da Próstata – o que acontece é que, por um lado, alguns tratamentos podem causar estas consequências; por outro, o grande crescimento da próstata pode levar a alterações do volume e características do esperma, desconforto local, perturbação do bem estar e, secundariamente, àquele tipo de queixas. .
É o caso, por exemplo, dos inibidores da 5-alfa redutase, como a dutasteride e a finasteride: estudos mostram que estas substâncias estão relacionada com casos de disfunção eréctil e diminuição da líbido numa percentagem importante dos homens que as tomam.
Também alguns métodos cirúrgicos, entre os quais os mais agressivos, podem causar os mesmos efeitos. No entanto, saiba que, na sua maioria, tendem a ser temporários, a não ser que se lesem de forma permanente estruturas necessárias para a função sexual.
10. A Hiperplasia Benigna da Próstata pode ser prevenida?
Prevenir o aparecimento destes quadros clínicos pode ser difícil, até impossível, dado que alguns factores de risco que aumentam a probabilidade de os desenvolver são intrínsecos e não modificáveis, como a idade ou o histórico familiar.
O que é possível controlar é a incidência e gravidade dos sintomas. Para isso, são feitas algumas recomendações como:
- Consumir mais frutas e vegetais, de preferência com vitamina C e zinco na sua composição;
- Seguir uma dieta equilibrada, evitando as carnes vermelhas e outros alimentos ricos em gordura;
- Reduzir o consumo de álcool, café e outras substâncias que “irritam” o tracto urinário;
- Evitar determinados medicamentos e produtos farmacológicos, se possível – como por exemplo anti-histamínicos, descongestionantes, anti-depressivos ou diuréticos;
- Praticar exercício físico regular;
- Evitar armazenar durante muito tempo a urina.
Além disso, um dos conselhos mais importantes é realizar consultas de acompanhamento para que, caso exista um problema, seja possível detectá-lo o mais precocemente possível, de modo a beneficiar a estratégia terapêutica e os resultados.
Pensa que sofre de Hiperplasia Benigna da Próstata – o que deve fazer?
Agora já esclareceu algumas das perguntas mais frequentes sobre a Hiperplasia Benigna da Próstata. Deve no entanto saber que estas informações não substituem de modo nenhum uma consulta médica com um especialista. Se desconfia que sofre de HBP, só ele poderá realizar, em primeiro lugar, um diagnóstico adequado.
Depois, terá todos os meios necessários para indicar a melhor terapêutica para o seu caso. Isto é importante porque, embora existam vários tratamentos eficazes para curar uma próstata aumentada, a escolha deve ser individualizada de acordo com as suas necessidades específicas, características e até preferências.
Se procura parceiros de confiança, o Instituto da Próstata conta com profissionais experientes e com os conhecimentos necessários para lhe garantir o melhor acompanhamento possível, para que recupere a sua vida o quanto antes.