Litíase e Cólica Renal
O que é a Litíase Renal?
A litíase renal refere-se à presença de cálculos renais, comummente conhecidos como “pedras nos rins”, que podem dar origem às cólicas renais, como consequência da sua presença e da sua deslocação.
O primeiro fenómeno no processo de formação de cálculos é a supersaturação dos constituintes dos cálculos presentes na urina. A presença de cristais ou corpos estranhos funciona como núcleo para a agregação de iões e formação de estruturas cristalinas microscópicas.
Existem vários tipos de cálculo, de acordo com sua composição bioquímica:
- Cálculos de cálcio, cerca de 80 a 85% dos casos (os mais frequentes em Portugal são os de oxalato de cálcio, mas existem outros: de fostato de cálcio e mistos - de oxalato e fosfato);
- Cálculos de ácido úrico (até 10 a 15%);
- Cálculos de estruvite, cálculos causados por infecção (até 10%);
- Cálculos de cistina (cerca de 1%);
- Outros (menos de 1%).
Esta patologia do aparelho urinário é bastante comum e estima-se que 9% das pessoas possa ter queixas pela litíase renal até aos 45 anos.
Factores de Risco da Litíase Urinária
Os principais factores de risco da formação dos cálculos renais são:
- Baixa ingestão de líquidos;
- Baixo débito urinário;
- Altas concentrações urinárias e dos componentes dos cálculos;
- Baixa concentração de magnésio e citrato (protectores da formação de cálculos);
- Uso de determinados fármacos;
- Histórico familiar;
- Doenças de algumas glândulas, como as paratiroideias, ou dos rins;
- Obesidade.
A formação de cálculos renais é mais prevalente nos homens do que nas mulheres, com maior incidência nos caucasianos do que em outras etnias.
Sintomas dos Cálculos Renais
A cólica renal é habitualmente descrita como um dos eventos mais dolorosos que o ser humano pode experimentar. Caracteriza-se classicamente por uma dor muito intensa, de instalação súbita, localizada em regra na região lombar ou no flanco, que pode irradiar para a região inguinal (“virilha”) homolateral, e acompanhada muitas vezes de sintomas gastro-intestinais, como náuseas e vómitos.
A presença de febre associada aos sintomas acima descritos é um importante sinal de alarme, uma vez que configura a possibilidade de estarmos perante uma das mais temidas complicações da cólica renal, a infecção. Um doente com cólica renal e com febre deve ser observado imediatamente por um Urologista.
Quando o cálculo se encontra no ureter distal ou na junção vesico-ureteral, podem também estar presentes sintomas de armazenamento do aparelho urinário inferior (aumento da frequência urinária, vontade súbita de urinar e ardor ou desconforto a urinar).
Diagnóstico da Litíase Renal
A presença de um ou mais cálculos ureterais obstrutivos provoca a clássica cólica renal (dor causada pela obstrução).
É necessário fazer alguns exames complementares para fazer uma avaliação mais precisa e correcta, tais como:
- Tomografia Computadorizada (TAC);
- Radiografia Simples do Aparelho Urinário;
- Ecografia Renal e Vesical;
- Sedimento Urinário (presença de cristais e sangue na urina);
- Hemograma completo e PCR (para avaliar se existem parâmetros de inflamação elevados);
- Estudo sanguíneo bioquímico (nomeadamente ureia, creatinina e ionograma, para avaliar a função renal).
Diagnósticos Diferenciais
Existem muitas doenças que podem causar sintomas semelhantes à cólica renal e que devem ser consideradas no diagnóstico diferencial deste quadro:
- Causas genito-urinárias: infecção urinária baixa, pielonefrite, tumores, obstrução por coágulos, necrose de uma papila renal, torção do cordão espermático e outras causas de escroto agudo, entre outras;
- Causas gastro-intestinais: apendicite, cólica biliar, colecistite, obstipação, oclusão intestinal, diverticulite, úlcera gástrica ou duodenal, gastrite aguda, perfuração de úlcera, doença inflamatória intestinal, pancreatite aguda, abcesso abdominal, entre outras;
- Causas vasculares: dissecção ou ruptura de aneurisma da aorta, enfarte renal, trombose da veia renal, enfarte esplénico e aneurisma da aorta, enfarte do miocárdio;
- Causas ginecológicas/obstétricas: torção de quisto do ovário, salpingite (inflamação das trompas), doença inflamatória pélvica, gravidez ectópica;
- Causas neurológicas: lombo-ciatalgia, nevralgia, entre outras;
- Causas osteo-articulares ou musculares: lumbago;
- Outras: como a compressão extrínseca do ureter por um tumor ou gânglios linfáticos, por exemplo.
Tem algum destes sintomas de "pedras nos rins"?
Tratamento da Litíase e Cólica Renal
Após o diagnóstico de cólica renal, deve ser determinada a presença ou ausência de obstrução e/ou infecção, para poderem ser adoptadas as medidas adequadas.
Na fase aguda, de dor intensa, o objectivo imediato é aliviar a dor. Devem ser procuradas evidências de complicações como a infecção, a obstrução bilateral ou de um rim único funcionante ou a presença de pûs no aparelho urinário. Estes são critérios para ser realizada uma cirurgia de urgência/emergência.
Não é demais destacar que perante a evidência de obstrução e infecção, a cirurgia urgente salva a vida do doente. Outros critérios para uma cirurgia nesta fase são a presença de vómitos, febre ou quebra do estado geral. Se a dor não passar ou o cálculo não for eliminado após cerca de 2 semanas, é também necessária uma operação de urgência.
Depois do tratamento desta fase aguda, o objectivo principal é a eliminação do cálculo que causou a dor e, posteriormente, evitar a formação ou o crescimento de outros cálculos.
Pode ser tentada a dissolução do cálculo, alcalinizando a urina. A alcalinização da urina é eficaz na dissolução de cálculos de ácido úrico, mesmo quando estes são volumosos, desde que os doentes adiram ao tratamento. Em cálculos de outras composições, este tratamento não é tão eficaz e pode mesmo ser perigoso (a alcalinização da urina pode facilitar a infecção).
Muitos doentes fazem tratamentos alternativos (com chás ou outros produtos - o clássico "quebra-piedras", que muitos doentes compram em farmácias ou ervanárias ou mandam vir de Espanha).
O tratamento definitivo dos cálculos passa pela litotrícia (fragmentação dos cálculos). Esta pode ser externa - Litotrícia Extra-corporal por ondas de choque (LEOC) - ou interna, recorrendo à endoscopia e à utilização da tecnologia laser para fragmentação e eliminação dos cálculos (ureterorrenoscopia ou cirurgia intra renal retrógrada com litotrícia intra-corporal).
Prognóstico da Litíase Renal
Actualmente, a disponibilidade de modalidades terapêuticas cirúrgicas minimamente invasivas, aumenta consideravelmente a taxa de sucesso.
A taxa de recorrência de cálculos renais é de 50% após 5 anos e de 70% após 10 anos.
A determinação da composição do cálculo, a correcta avaliação do risco metabólico e a adesão adequada do doente ao tratamento podem diminuir significativamente a recorrência da litíase na maior parte dos doentes.
Dr. José Santos Dias
Director Clínico do Instituto da Próstata
- Licenciado pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa
- Especialista em Urologia
- Fellow do European Board of Urology
- Autor dos livros "Tudo o que sempre quis saber Sobre Próstata", "Urologia fundamental na Prática Clínica", "Urologia em 10 minutos","Casos Clínicos de Urologia" e "Protocolos de Urgência em Urologia"
Perguntas Frequentes sobre Litíase e Cólica Renal
Como se pode prevenir a Litíase Urinária?
Quais são os sintomas da Litíase Renal?
Quais são os factores de risco para a formação de “Pedras nos Rins”?
Que tratamentos existem para a Litíase Renal?
Mesmo depois de eliminar a pedra que causou a dor, os Cálculos Renais podem voltar?
Referências
- DIAS, José Santos. Urologia Fundamental: na prática clínica. Lisboa: Lidel - Edições Técnicas, Lda, 2010.
- Kidney stones - https://www.baus.org.uk/patients/conditions/6/kidney_stones
- Kidney stones - https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/kidney-stones/symptoms-causes/syc-20355755
- What are Kidney Stones? - https://www.urologyhealth.org/urologic-conditions/kidney-stones