O Instituto da Próstata, atento às mais recentes evoluções e novidades acerca das doenças da próstata, destaca um dos mais importantes - se não o mais importante - eventos ocorridos durante o Congresso da EAU (European Association of Urology), onde esteve presente: a apresentação pública da Lancet Commission sobre cancro da próstata.
A Lancet Commission e os principais destaques do Congresso
A revista Lancet, uma das principais revistas científicas mundiais, só cria uma comissão deste tipo quando há um tema de tal modo importante que se torna necessário estudar, prever e programar a resposta para esse problema. É o caso do cancro da próstata.
Este foi, de facto, um dos dados mais relevantes e que mais se destacou no Congresso da Associação Europeia de Urologia, tendo o relatório da Comissão sido apresentado a 6 de abril naquele Congresso, que decorreu em Paris.
Publicação e Alerta
Publicada na revista Lancet na mesma altura da sua apresentação pública, esta Comissão alertou para o facto de estar a ocorrer um aumento "inevitável" do número de casos de cancro da próstata, prevendo-se que este aumento atinja 2,9 milhões de novos casos e um aumento de 85% do número de mortes, para cerca de 700 000, até 2040.
Impacto Global
Nesta reunião de urologistas, realizada em Paris, França, a comissão afirmou que a aceleração já está em curso em países de elevado rendimento, como os Estados Unidos e o Reino Unido, mas que irá ganhar grande ímpeto nos países de baixo e médio rendimento.
Declarações dos Especialistas
Nick James
O autor principal do relatório da Lancet, Nick James, médico e professor no The Institute of Cancer Research, em Londres, afirmou que o aumento constitui, em parte, uma história de sucesso da medicina.
"Paradoxalmente, o cancro da próstata é um problema que está ligado à biologia. Os homens contraem cancro da próstata à medida que envelhecem", disse James.
Além do já conhecido grande aumento nos países com rendimentos elevados, nas próximas décadas, iremos assistir a um grande aumento do número de pessoas com 50, 60 e 70 anos nos países mais pobres e, com isso, haverá mais cancro da próstata. Os países com rendimentos elevados, como o Reino Unido e os EUA, também vão registar aumentos menores pela mesma razão.
Andrew Vickers
De acordo com o relatório, "os argumentos a favor do rastreio do cancro da próstata para todos os homens com idades compreendidas entre os 50 e os 70 anos (e todos os homens de origem africana com idades compreendidas entre os 45 e os 70 anos) em países de elevado rendimento estão a ser reforçados com a melhoria da utilização de tecnologias como a ressonância magnética e com a crescente evidência da segurança da vigilância ativa".
Andrew Vickers, PhD, do Memorial Sloan Kettering Cancer Center, de Nova Iorque (centro onde José Santos Dias, Director Clínico do instituto da Próstata fez parte da sua formação em cirurgia laparoscópica do cancro da próstata, em 2006), disse que a Comissão Lancet chegou a conclusões semelhantes às que ele e um outro grupo internacional de investigadores chegaram num documento de política de saúde, publicado no The British Medical Journal em 2023.
Utilização do Rastreio com PSA
Uma grande lacuna, disse Vickers, é o uso indevido do rastreio do antigénio específico da próstata (PSA).
"Descobrimos que o compromisso político omnipresente de deixar os pacientes decidirem por si próprios sobre o PSA levou aos piores resultados resultantes de uso excessivo em homens com pouca probabilidade de beneficiar do diagnóstico, altas taxas de sobre-diagnóstico, tratamento excessivo e desigualdade econômica e racial", disse Vickers. "A nossa opinião é que o rastreio do PSA deve ser bem feito - através da implementação de estratégias simples de redução de danos, como a restrição do rastreio em homens mais velhos e a utilização de testes secundários antes da biópsia - ou não deve ser feito de todo."
Subtratamento da Doença Avançada
James disse que o subtratamento da doença avançada é generalizado; apenas cerca de 30-40% dos homens nos Estados Unidos recebem terapia hormonal combinada para a doença metastática, por exemplo. "Fazer simplesmente o que sabemos que funciona melhoraria os resultados", afirmou.
Homens de Ascendência Africana
James afirmou que os homens de ascendência africana têm duas vezes mais probabilidades de desenvolver cancro da próstata, mas não é claro se o tratamento deve seguir uma abordagem diferente nestes homens. O novo relatório sublinhou a necessidade de incluir mais homens de ascendência africana na investigação.
Necessidade de Novas Abordagens
Brandon Mahal, médico, vice-presidente do departamento de investigação em Radioncologia do Sylvester Comprehensive Cancer Center da Universidade de Miami e coautor do relatório, afirmou que são necessárias novas abordagens para permitir o diagnóstico precoce do cancro da próstata em homens de países de baixo e médio rendimento, onde, na actualidade, a maioria dos doentes apresenta doença metastática e tem menos probabilidades de sobreviver durante longos períodos.
Soluções Inovadoras
Clínicas Pop-up e Testes Móveis
James recomendou clínicas pop-up e testes móveis para incentivar os homens com elevado risco de cancro da próstata, mas que se sentem bem, a detetar precocemente cancros letais.
Programa "The Man Van"
Em Inglaterra, por exemplo, James ajudou a introduzir um programa de divulgação chamado "The Man Van", que oferecia exames gratuitos, incluindo testes de PSA, a homens de alto risco em Londres.
"Ao levar uma carrinha com testes rápidos e fáceis diretamente aos homens no trabalho e na comunidade, e visando aqueles que têm um risco mais elevado de cancro da próstata, fornecemos milhares de exames que resultaram em quase 100 diagnósticos de cancro em homens que, de outra forma, só teriam consultado um médico quando o seu cancro tivesse progredido para uma fase já mais avançada", afirmou.
Preparação para o Futuro
O Comissário salientou que a comunidade médica mundial está mal preparada para o aumento do número de casos de cancro da próstata.
Utilização de Inteligência Artificial
"A solução não pode passar pela formação de mais urologistas, radioncologistas, patologistas e radiologistas, porque isso demora demasiado tempo", afirmou James. No entanto, uma maior utilização de enfermeiros e de inteligência artificial pode ajudar. "A IA já é extraordinariamente boa no diagnóstico e só vai melhorar", afirmou.
Uso de Smartphones nos Países Mais Pobres
Nos países mais pobres, os smartphones também podem colmatar as lacunas no diagnóstico do cancro da próstata. "A mesma tecnologia que faz o reconhecimento facial já pode dizer que se trata de um cancro da próstata de Gleason 7", afirmou James.
Conte com os profissionais certos no acompanhamento da saúde da sua próstata
O tsunami de cancro da próstata previsto pela Lancet Commission destaca a necessidade urgente de estratégias inovadoras e eficazes para a detecção e tratamento da doença. A adoção de novas tecnologias e abordagens é crucial para enfrentar este desafio crescente. O Instituto da Próstata continuará a estar na vanguarda destes avanços, trabalhando para proporcionar o melhor atendimento possível aos nossos pacientes.