Associação de combate ao Cancro revela novos dados sobre o Cancro da Próstata – o que significam?

Sendo uma das neoplasias malignas mais comuns no mundo, de forma frequente surgem novos dados sobre o Cancro da Próstata na comunidade médica. Desta vez, a fonte é a American Cancer Society (em português, Associação Americana de Cancro), uma organização centenária cujo objectivo é implementar estratégias de combate à doença.

Os dados, revelados em janeiro deste ano (2023) pelo portal de notícias Medscape, são considerados alarmantes, ao ponto de terem levado à implementação de estratégias, por parte da própria American Cancer Society (ACS), para os reverter. Além disso, geraram protestos entre as instituições de apoio a pacientes com Cancro prostático.

Hoje vamos explorar o tema, revelando que dados são estes, o que significam, a controvérsia que provocam e as medidas pensadas para os encarar, para que esteja a par do assunto.

 

O crescimento do Cancro da Próstata avançado segundo os novos dados

 

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Os novos dados sobre o Cancro da Próstata que foram divulgados pela ACS revelaram que, de 2014 a 2019, o número de homens diagnosticados com esta neoplasia sofreu um aumento de cerca de 15% (média de 3% por ano). Tais informações seguem uma tendência oposta às de outros Cancros, como o Cancro do Colo do Útero, cuja incidência parece ter melhorado.

O que provoca ainda mais preocupação é que, destes casos, muitos dizem respeito a diagnósticos de doença avançada, aumentando de 4% a 5% por ano desde 2011.

Diz-se que o Cancro prostático está num estado avançado quando deixa de estar confinado à glândula e as células cancerígenas:

  • Atingem zonas próximas à próstata, como a bexiga, uretra, gânglios linfáticos ou recto – é o chamado Cancro localmente avançado;
  • Viajam pela corrente sanguínea e pelo sistema linfático, alojando-se em zonas distantes do corpo, como ossos, fígado ou pulmões – é o chamado Cancro à distância ou Cancro metastizado.

 

Os dados recentes revelados pela ACS mostram ainda que, no que refere a Cancros à distância ou metastizados em concreto, o número de diagnósticos duplicou.

Estas evidências são particularmente alarmantes porque se sabe que um Cancro da Próstata avançado é mais difícil de tratar, com a probabilidade de cura a diminuir de forma substancial. Em alguns casos, o problema é mesmo impossível de eliminar, restando realizar terapêuticas de controlo da doença.

 

O papel da American Cancer Society perante os novos dados sobre o Cancro da Próstata

 

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Para combater este aumento de diagnósticos de Cancro prostático e de casos de doença avançada, a ACS (American Cancer Society) montou um plano de acção.

A estratégia passa pela implementação do programa IMPACT – Improving Mortality from Prostate Cancer Together (em português Melhorar a Mortalidade por Cancro da Próstata Juntos). Com esta iniciativa, a ACS pretende mobilizar recursos e executar medidas para financiar e desenvolver investigações nesta área e para expandir o apoio a pacientes doentes.

De forma mais específica, o programa tem como objectivos:

  • Descobrir mais sobre a doença, incluindo quem tem maior risco de a desenvolver e como a evitar;
  • Oferecer mais soluções de qualidade, da prevenção à cura, e facilitar o acesso a medidas de diagnóstico e de tratamento inovadoras;
  • Actualizar directrizes para o diagnóstico e tratamento da doença;
  • Estimular o avanço de políticas públicas para combater o problema;
  • Desenvolver parcerias comunitárias com organizações, universidades e entidades da área;
  • Diminuir o custo de medidas de diagnóstico e tratamento;
  • Disseminar o conhecimento sobre o tema pelos grupos de risco;
  • Desenvolver e apoiar campanhas que elevem a voz dos pacientes.

 

Com estes objectivos, a ACS espera que seja possível entender as razões para o aumento da incidência da doença, diminuir esta tendência e reduzir a mortalidade associada à mesma até 2035, em especial em homens negros.

Esta necessidade prende-se com informações da própria ACS, que revelam que a incidência de tumor maligno da próstata na comunidade negra é cerca de 70% superior e as taxas de mortalidade duas a quatro vezes maiores, em relação a outros grupos raciais.

Assim, ao implementar o plano IMPACT pretende-se diminuir estas disparidades entre comunidades e reduzir a incidência da doença no geral.

 

As opiniões díspares das organizações de apoio a pacientes com Cancro da Próstata sobre o papel da ACS

Com o surgimento das informações que dão conta de um crescimento da incidência do Cancro prostático, em especial em estados avançados, dividem-se opiniões em relação à acção da ACS ao longo dos anos.

Algumas organizações de defesa dos pacientes com Cancro deixam elogios à iniciativa IMPACT. É o caso da maior instituição de pesquisa desta neoplasia no mundo – a Prostate Cancer Foundation. Segundo a notícia da Medscape, este novo programa é encarado como sendo essencial para beneficiar todos os doentes com tumor prostático, em especial os negros.

Por outro lado, outros demonstram frustração com o que chamam de passividade perante indícios já existentes e avisos de que os casos de doença iriam aumentar, acreditando que a ACS negligenciou o apoio aos doentes com Cancro da Próstata.

 

Exemplos dados pelos líderes de como a ACS ignorou a problemática do Cancro da Próstata

Um dos exemplos da falta de acção da ACS apontada pelos líderes é a carência de defesa de exames de diagnóstico e rastreio da patologia como o teste do PSA – um dos marcadores tumorais mais conhecidos, que é determinado através de uma análise ao sangue.

Há alguns anos, a US Preventive Services Task Force (USPSTF), a principal autoridade americana em serviços médicos preventivos, emitiu uma recomendação contra o uso deste exame como rastreio para o Cancro prostático. Perante esta posição, e na opinião de muitos líderes, a ACS pecou pela falta de esclarecimento acerca desta medida.

Na verdade, ao expor agora os novos dados sobre o Cancro da Próstata, a ACS conclui que o aumento de diagnósticos de Cancros avançados pode estar relacionado com estas mudanças das directrizes sobre o rastreio com exame do PSA. Afinal de contas, entre 1993 e 2020 este indicador foi muito útil para reduzir em 53% o risco de morte por esta doença.

A estas críticas junta-se ainda o facto de, ao longo do tempo, a ACS ter desmantelado grupos de apoio a pacientes com Cancro prostático, como o Man to Man ou o Brother to Brother.
Por fim, algumas organizações acreditam ainda que o aumento do número de diagnósticos desta doença é ainda mais elevado do que o relatado pela ACS.

 

A importância da detecção precoce do Cancro da Próstata para melhorar a sua incidência e mortalidade

Sabendo que a mudança nas directrizes do uso do exame do PSA no rastreio do tumor da próstata pode ter contribuído para os novos dados preocupantes, é importante lembrar que a questão do rastreio tem levantado algumas questões ao longo dos anos.

Existe a teoria de que este rastreio pode resultar em falsos-positivos, em sobre-diagnóstico e em sobre-tratamento, uma vez que níveis de PSA elevados podem ter outras razões além do Cancro. Esta é uma das justificações para a USPSTF se ter posicionado contra a sua realização.

No entanto, esta posição levantou algumas críticas entre a comunidade de Urologistas e as principais organizações de defesa dos pacientes oncológicos. Isto acontece porque o rastreio do Cancro da Próstata pode contribuir para que a doença seja diagnosticada de forma precoce. O que é que isto significa?

Quando um Cancro prostático é diagnosticado de forma precoce, a probabilidade de ainda ser pouco desenvolvido é maior. Nesta fase, os tratamentos são mais eficazes e a doença é mais curável. Desta forma, o rastreio pode ajudar a reduzir a incidência de casos avançados e a mortalidade associada a esta patologia.

 

Associacao De Combate Ao Cancro Revela Novos Dados Sobre O Cancro Da Prostata O Que Significam Instituto Da Prostata

 

Na verdade, após as críticas, a USPSTF reconsiderou a sua posição e passou a recomendar a decisão individual de realizar um rastreio com análise ao PSA para o Cancro da Próstata, discutida entre o médico e o paciente, pelo menos dos 55 aos 69 anos. Nesta tomada de decisão, devem pesar os benefícios e riscos de o realizar, para o caso em questão.

Já a ACS, para recuperar os benefícios destas práticas, aconselha agora que, na generalidade, os homens devem discutir esta possibilidade a partir dos 50 anos ou dos 45 anos, no caso da comunidade negra e de outros factores de risco associados.

Além do mais, para melhorar a eficiência do rastreio e eliminar a possibilidade de diagnósticos errados, ao exame do PSA podem ainda ser associados outros testes, por exemplo com marcadores moleculares ou com métodos de imagem.

O objectivo é que o IMPACT inclua já estas recomendações actualizadas.

 

O financiamento para a pesquisa sobre o Cancro da Próstata

 

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Apesar destas mudanças e do estabelecimento de directrizes para o rastreio do Cancro prostático, ainda existem dados sobre o apoio à doença que é importante discutir e que são alvo de críticas por parte das organizações de defesa dos pacientes. Estes prendem-se com o financiamento para acções de pesquisa sobre a doença, essenciais no combate à mesma.

A notícia da Medscape dá conta de que existem discrepâncias acentuadas entre os gastos com o Cancro prostático e outros tipos de Cancros. Em 2018, por exemplo, foram gastos 6,5 milhões de dólares com esta doença e cerca de 15 milhões de dólares com o Cancro da mama.

 

Apesar de se prever uma subida neste financiamento para 2023, as disparidades continuarão a fazer-se sentir: mais de 126 milhões de dólares para o Cancro da mama, 61 milhões para o colorectal, 62 milhões para o do pulmão e apenas 43.9 milhões para o Cancro da Próstata.

Para justificar estas diferenças, a ACS defende que as decisões quanto ao financiamento são um reflexo das descobertas que vão sendo feitas, em nada dependendo do tipo de patologia em si.

Os líderes das organizações acreditam que, para promover o programa IMPACT, seria importante eliminar estas discrepâncias e equiparar o financiamento entre patologias, já que o número de novos casos de Cancro da Próstata é próximo do do Cancro da mama, por exemplo.

 

Confiar nos parceiros certos para combater o avanço do Cancro da Próstata

Conhecendo agora os novos dados sobre o Cancro prostático e tudo o que os envolve, está na altura de tirar algumas conclusões sobre o assunto, como por exemplo:

  • A falta de esclarecimento sobre medidas de diagnóstico pode levar ao aumento de casos de doença e à descoberta tardia das mesmas;
  • O rastreio deve ser discutido entre o médico e o paciente;
  • Um diagnóstico precoce pode salvar vidas e reduzir a mortalidade;
  • Os homens, em especial os que pertencem a grupos de risco, devem estar esclarecidos sobre a importância de um rastreio e da avaliação à próstata;
  • Proteger os pacientes, em especial os de risco, permite reduzir a taxa de incidência da doença.

 

Com base nestas ilações, é possível concluir que melhorar a incidência e mortalidade por Cancro da Próstata depende de uma acção conjunta entre:

  • Entidades certificadas de combate ao Cancro – promovem a investigação e difundem conhecimento sobre a patologia;
  • Instituições de diagnóstico e tratamento – oferecem serviços e recursos de qualidade para descobrir e tratar o Cancro;
  • Políticas públicas – melhoram o acesso a cuidados de saúde adequados;
  • Pacientes – procuram lutar pela sua saúde e cumprir recomendações dos especialistas.

 

Como instituição especializada na área, no Instituto da Próstata fazemos a nossa parte. Apostamos nas técnicas mais avançadas e eficazes para diagnosticar e tratar o Cancro da Próstata e estamos a par de todos os desenvolvimentos e novos dados sobre o assunto, para conseguirmos oferecer os melhores cuidados aos nossos pacientes.

Também seguimos as recomendações mais credíveis e acreditamos que um diagnóstico precoce é o caminho para uma vida com mais saúde.

Por fim, os nossos especialistas, como o Dr. José Santos Dias, participam de forma activa em diversos estudos sobre o cancro prostático, trazendo as suas descobertas para o Instituto da Próstata. Criámos ainda o ICUro - Innovation Center for Urology, o departamento de investigação do Instituto da Próstata, onde desenvolvemos pesquisas sobre diversas doenças, entre as quais o Cancro prostático e dispositivos médicos de combate às mesmas.

É este esforço, compromisso e profissionalismo que colocamos no nosso trabalho que nos ajuda a contribuir para reverter dados alarmantes, como os descritos neste artigo.

Se procurar um centro de Urologia em Lisboa, conte com a nossa ajuda para investir na sua saúde.

Dr. José Santos Dias

Director Clínico do Instituto da Próstata

  • Licenciado pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa
  • Especialista em Urologia
  • Fellow do European Board of Urology
  • Autor dos livros "Tudo o que sempre quis saber Sobre Próstata", "Urologia fundamental na Prática Clínica", "Urologia em 10 minutos","Casos Clínicos de Urologia" e "Protocolos de Urgência em Urologia"

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