O toque rectal é um importante exame de diagnóstico, desde há muitos anos utilizado na detecção de problemas na próstata, como é o caso do cancro da próstata. No entanto, uma recente investigação apresentou conclusões que parecem colocar em causa a viabilidade deste exame na detecção precoce do cancro da próstata - isto é, em homens mais jovens.
As conclusões são as de um grupo de trabalho alemão, num ensaio de nome PROBASE. Uma obrigatoriedade no exame objetivo do doente urológico, o toque rectal pode, afinal, não ser suficientemente preciso na detecção de cancro da próstata.
Neste artigo vamos explicar-lhe tudo em maior detalhe.
Para que serve o exame de toque rectal?
O toque rectal é utilizado com frequência num contexto de cuidados de saúde primário por médicos de família, ou por médicos urologistas para avaliar a próstata, através da palpação.
Quando é utilizado como exame de diagnóstico?
É um exame considerado essencial em situações como:
- exame físico genitourinário - permite a caracterização da próstata;
- identificação de doenças e anomalias do ânus e do recto (como por exemplo o tumor do recto);
- avaliação uro-ginecológica e o tónus anal.
Em alguns países, como a Alemanha, o toque rectal é usado como método de diagnóstico precoce do cancro da próstata. É, aliás, o único método utilizado num programa nacional de rastreio do cancro da próstata, estabelecido em 1971, indicado anualmente para homens com mais de 45 anos.
A investigação realizada: afinal, o toque rectal ajuda ou não na detecção precoce do cancro da próstata?
Com a premissa de outros estudos que determinam que o toque rectal pode ser um exame invasivo, incómodo e pouco relevante nos indivíduos jovens, foi efetuada uma pesquisa no sentido de confirmar esta hipótese.
Neste estudo realizado no Centro Alemão de Pesquisa do Cancro (Deutsches Krebsforschungszentrum, DKFZ) em Heidelberg, os investigadores propuseram-se fazer o toque rectal a 6537 homens quando estes atingissem os 45 anos.
Os resultados da investigação
Dos 6537 homens, apenas 57 tiveram achados suspeitos meritórios de biópsia prostática adicional. Apenas 36 homens concordaram em fazer biópsia e destes, a biópsia foi positiva para cancro da próstata em apenas 3, o que traduz uma taxa de detecção de cancro da próstata para o toque rectal de apenas 0.05% (3 casos em 6537 homens).
Adicionalmente, os 3 doentes diagnosticados com o toque rectal tinham tumores da próstata de baixo grau e com PSAs < 3ng/mL. Tipicamente, os tumores da próstata detectados com o toque rectal são mais agressivos pois, para serem palpáveis, teriam de estar numa fase mais avançada, o que foi, igualmente, contradito no estudo.
Este trabalho de investigação é um dos maiores estudos prospectivos na performance do toque rectal na detecção de cancro da próstata em homens jovens (homens com idades inferiores a 50 anos). A grande conclusão do estudo é que o toque rectal não é um bom exame neste contexto (ou seja, em homens jovens), apresentando uma taxa de detecção baixíssima.
Ficam, assim, muitas dúvidas sobre se se deve continuar a usar o toque rectal neste contexto.
As possíveis desvantagens do exame de toque rectal
Outra desvantagem do toque rectal é a elevada taxa de falsos positivos, isto é, criar a suspeita de doença que, depois, não se confirma na biópsia, elevando o número de biópsias desnecessárias. Por outro lado, um toque rectal negativo não exclui um cancro da próstata.
Finalmente, existe grande variabilidade inter-observador, o que significa que dois médicos podem ter opiniões diferentes quando fazem o toque rectal, com grandes implicações a nível do diagnóstico, decisões relacionadas com o tratamento e outcomes do doente.
Outros estudos que suportam a inviabilidade do toque rectal na detecção precoce do cancro da próstata
A par com este estudo, outros ensaios de screening chegaram à mesma conclusão. É o caso do ERSPC (European Randomized study of Screening for Prostate Cancer), do FinRSPC (Finnish Randomized Study of Screening for Prostate Cancer ) e do PLCO (Prostate, Lung, Colorectal and Ovarian): a taxa de detecção de cancro da próstata clinicamente significativo resultado de um toque rectal era marginal.
Na comparação com o PSA e a Ressonância Magnética, estes dois testes são muito superiores no rastreio precoce da doença. Para além disso, é reconhecido que a adesão a programas de rastreio está também condicionada pela vontade do homem jovem aceitar fazer o toque rectal, o que diminui a adesão a este tipo de programas comprometendo o seu sucesso. Está na altura de repensarmos a necessidade do toque rectal no diagnóstico precoce do cancro da próstata.
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