Perante condições de saúde que prejudicam a qualidade de vida, importa encontrar opções terapêuticas eficazes. É neste sentido que deve conhecer a Reabilitação Pélvica no tratamento da Incontinência Urinária Feminina. Afinal, estes quadros clínicos são conhecidos pelos constrangimentos significativos que provocam.
Esta é uma opção de tratamento ampla, com várias técnicas diferentes. Além disso, como é pouco ou nada invasiva, pode ser utilizada em diversos casos.
Para que entenda melhor este tratamento, hoje reunimos todas as informações importantes sobre a Reabilitação Pélvica.
Incontinência Urinária nas Mulheres – incidência e como se manifesta?
Apesar de poder afectar também os homens, é no sexo feminino que a Incontinência Urinária é mais prevalente – evidências mostram que pode perturbar cerca de 1 em 4 mulheres. Além do mais, é mais comum com o avançar da idade.
Este é um problema urológico que se caracteriza pelas perdas involuntárias de urina. Pode caracterizar-se de várias formas, dando origem a diversos tipos de Incontinência Urinária:
- Incontinência de esforço, a mais comum no sexo feminino (cerca de 50-70% dos casos) – as perdas ocorrem quando existe aumento da pressão abdominal como ao correr, tossir, espirrar, rir, dançar ou pular;
- Incontinência de urgência (por imperiosidade) ou Bexiga Hiperactiva (14% dos casos) – quando o músculo da parede da bexiga (designado detrusor) contrai involuntariamente, provocando uma vontade repentina e urgente de urinar, resultando nas perdas de urina;
- Incontinência por regurgitação (cerca de 4% dos casos) – a bexiga encontra-se muito distendida, por obstrução crónica e incapacidade para esvaziar, ficando com tão elevada quantidade de urina acumulada que, à medida que mais urina chega dos rins para a bexiga, ocorre uma perda consequente ao aumento de pressão no interior da bexiga (este tipo é mais frequente em casos de bexiga com alterações neurológicas - bexiga neurogénica; é mais frequente em homens, nomeadamente por causa dos problemas causados pela próstata;
- Incontinência mista – associa os dois primeiros tipos e está presente em cerca de 14 a 61% dos casos.
As razões que levam aos quadros de Incontinência Urinária Feminina relacionam-se com o número de partos vaginais e de gravidezes, obesidade, alterações da menopausa como défice de estrogénios, diabetes, demência ou alterações do pavimento pélvico.
Na verdade, estas alterações das estruturas pélvicas estão muito relacionadas com a Incontinência de esforço, a mais comum. O que acontece é estas estruturas perdem tonicidade e firmeza, deixando de conter a urina na bexiga perante um aumento da pressão em torno deste orgão.
Outras causas parecem também estar associadas a este e a outros tipos de Incontinência, em especial o envelhecimento.
Porquê tratar as perdas de urina?
Os efeitos dramáticos das situações de perdas de urina são bem conhecidos pelas pessoas que sofrem deste problema. Ainda que não represente risco de vida, o seu impacto está bem presente no dia a dia.
É frequente que as mulheres que sofrem deste problema se isolem e deixem de realizar actividades que apreciam, como fazer exercício, dançar, viajar ou fazer compras, com medo dos episódios de perdas de urina, que temem sejam notados por quem as rodeia. Também as esferas pessoal, conjugal e íntima podem ser afectadas com esta condição.
Tudo isto contribui para a diminuição da autoestima e autoconfiança, com efeitos significativos a nível da estabilidade e bem-estar mental.
Todos os tipos de Incontinência apresentam impactos negativos na qualidade de vida, mas a de urgência parece ser mais incomodativa, já que as perdas são súbitas e, portanto, inesperadas.
É por tudo isto que é importante efectuar o tratamento da Incontinência Urinária, recuperando uma vida sem episódios embaraçosos.
Métodos para Tratamento
Uma vez que existem diferentes tipos de Incontinência Urinária, é natural que também existam diversas opções de tratamento.
A escolha deve ter como base a história e quadro clínico das pacientes. Durante esta fase, podem ser realizados vários exames, sempre com o objectivo de descobrir o método mais adequado a cada caso específico.
Para a incontinência por imperiosidade, numa primeira fase, é habitual recorrer à Terapêutica Médica, através de fármacos como os Anti-muscarínicos e Beta-3 Agonistas, para controlar os sintomas.
Os medicamentos não são muito eficazes em casos de incontinência de esforço. Neste tipo, em muitos casos inicia-se o tratamento pela reabilitação pélvica (que pode ser utilizada noutros tipos de incontinência).
Em casos mais severos, podem realizar-se métodos minimamente invasivos para eliminar as perdas de urina; nestes incluem-se os seguintes tipos de tratamento:
Incontinência de esforço:
- Injecção de Bulking Agents;
- Fitas/Slings Sub-uretrais;
- Colocação de esfíncter urinário artificial;
Incontinência por imperiosidade;
- Injecção de Toxina Botulínica;
- Utilização de Neuromoduladores.
Reabilitação Pélvica para Mulheres – o que é e qual a importância?
Recorda-se quando indicámos que a Incontinência Urinária pode ser provocada pela perda de firmeza e tonicidade dos músculos do pavimento pélvico? A Reabilitação Pélvica visa resolver estas situações, restabelecendo, através de medidas de manipulação e estimulação dos tecidos, a sua funcionalidade, força e capacidade de sustentação das estruturas da região.
Desta forma, é muito útil para quadros de incontinência de esforço. Todavia, já que promove o normal funcionamento dos músculos, tendões e ligamentos pélvicos, acaba por ter, de modo geral, efeitos positivos em todos os casos.
Assim sendo, a capacidade de contracção e relaxamento da bexiga, responsável por conter a expulsar a urina nas alturas certas, e a capacidade de continência do esfíncter urinário são também restituídas, reduzindo os episódios de micção involuntária.
Saiba que estas técnicas não acarretam riscos ou efeitos negativos – aliás, além dos pontos positivos para o normal funcionamento do processo de micção, beneficiam também a vida íntima, pois permitem aumentar a sensibilidade e estimulação sexuais.
Regra geral, este tratamento é utilizado em quadros ligeiros ou moderados, quando os sintomas, mesmo que incomodativos, são ainda pouco marcados.
Pode ainda ser indicado para quem fez outros tratamentos sem resultados satisfatórios ou duradouros, para quem deseje evitar outros tratamentos (como a Terapêutica Médica) ou ainda em complemento de outros tratamentos minimamente invasivos descritos acima, antes ou depois dos mesmos.
Os procedimentos são orientados por profissionais especializados, em várias sessões, com regularidade e duração variáveis, consoante a complexidade e as características de cada caso.
Vamos conhecer quais os métodos de fortalecimento, relaxamento e coordenação muscular utilizados na Reabilitação Pélvica.
Técnicas de Fisioterapia
As técnicas de fisioterapia têm como objectivo promover a consciência corporal e corrigir disfunções no pavimento pélvico.
Para isso, usam-se técnicas de manipulação manual, recrutando e reforçando os grupos musculares necessários e estimulando a normalização das suas funções. De forma progressiva, com o avançar das sessões, estas estruturas tornar-se-ão mais intensas, minimizando ou eliminando os sinais de Incontinência.
Exercícios de Kegel
O propósito é o mesmo: restituir a força e tonicidade às estruturas do pavimento pélvico. Contudo, neste caso a paciente é a figura principal do procedimento, pois é ela que realiza os exercícios, ainda que sob orientação profissional.
O procedimento é simples: a paciente contrai por cerca de 5 segundos os músculos pélvicos, para de seguida os relaxar. Este ciclo é repetido algumas vezes, consoante a necessidade de maior ou menor estimulação.
Ainda que, numa fase inicial, possa ser incapaz de contrair os músculos por muito tempo, realizando ciclos mais curtos, com o tempo vai aumentando a duração das contracções e descontracções, bem como o número de repetições.
Além do papel fundamental na restituição da capacidade muscular, estes exercícios permitem também controlar melhor a urgência miccional, que caracteriza a Incontinência de urgência.
Electroestimulação e Biofeedback
Além de fortalecer os músculos, estes procedimentos visam contribuir para a identificação daqueles que é necessário exercitar, ajudando a melhorar e manter os resultados alcançados com outras técnicas.
No caso da Electroestimulação, através de uma sonda própria transmitem-se pequenas correntes eléctricas aos músculos pélvicos, promovendo contracções e consequente fortalecimento muscular. Esta técnica de estimulação eléctrica apresenta taxas de sucesso com melhorias de queixas na ordem dos 52-77%, segundo algumas evidências.
Em relação às técnicas de Biofeedback, os procedimentos habituais são os seguintes:
- Insere-se um sensor na parede abdominal e outro na vagina que captam sinais eléctricos dos músculos pélvicos;
- Quando a paciente contrai e relaxa estes grupos musculares, esses sinais são registados num sistema computorizado, permitindo medir a actividade muscular;
- Após o registo, por meio de instrumentos electrónicos transmitem-se informações visuais ou auditivas à paciente, informando-a de que está a realizar o movimento certo no sítio certo.
A grande vantagem deste procedimento é que permite identificar com facilidade os músculos a exercitar, de forma a potenciar os resultados dos exercícios de contracção, fornecendo feedback imediato acerca da qualidade e intensidade do movimento. É por isso que o Biofeedback tem uma taxa de sucesso na melhoria das perdas miccionais de cerca de 54-87%.
O que fazer para potenciar os resultados da Reabilitação Pélvica?
Alguns dados revelam que a Reabilitação Pélvica para mulheres pode ser um sucesso para reduzir ou eliminar as perdas de urina, com resultados positivos a aparecerem dentro de cerca de 6 semanas após o seu início. Os mesmos dados indicam que as melhorias mais significativas devem ser notadas ao fim de 3 meses.
Contudo, cada caso é um caso, e mesmo que os efeitos demorem a aparecer não significa que se deva desistir da terapêutica. De facto, existem algumas medidas comportamentais que podem ser adoptadas para potenciar os resultados, como por exemplo:
- Mudar hábitos alimentares, procurando seguir um regime mais saudável;
- Perder peso;
- Controlar o número de micções diárias – recomendam-se entre 6 a 8 vezes;
- Ingerir líquidos na dose diária recomendada pelo médico.
Quando as doentes sentem dificuldade em localizar os músculos que devem contrair para fortalecer o pavimento pélvico, além das técnicas de Biofeedback, podem ainda treinar esta identificação, experimentando o movimento e observando que músculos se movem.
É possível que, de início, contraiam também outros grupos musculares, como os abdominais, mas com o tempo a técnica vai sendo aprimorada.
Praticar os exercícios em casa – o maior segredo para beneficiar os resultados
A Reabilitação Pélvica é um tratamento que precisa de ser repetido. Na verdade, a eficácia dos exercícios de manipulação muscular para tratar a Incontinência Urinária depende da sua frequência, assim como da sua intensidade.
Posto isto, quando este é o tratamento escolhido, é aconselhado que se crie uma rotina diária autónoma de repetição das sessões de contração e relaxamento muscular, em especial com exercícios de Kegel.
É natural que, no início, sinta a necessidade de manter a concentração durante os ciclos de repetição. Nesse caso, reserve-os para um momento do dia específico, como por exemplo ao deitar. Isto ajudará a criar um hábito. Com o tempo, verá que consegue realizá-los durante outras actividades sem esforço.
É fundamental que mantenha esta rotina mesmo depois de notar melhorias, para que consiga também manter ou até melhorar os resultados.
Quanto à frequência, duração e número de repetições, as orientações são dadas pelo especialista, médico ou fisioterapeuta, tendo em conta a sua situação clínica.
Procure ajuda personalizada e comece a viver sem perdas de urina
Agora que já sabe como a Reabilitação Pélvica no Tratamento da Incontinência Urinária Feminina pode ser eficaz, deve, em primeiro lugar, pedir ajuda médica. Dados os constrangimentos que pode provocar, é comum que as mulheres com perdas de urina adiem a decisão de procurar tratamento.
Neste processo, é fundamental que procure profissionais experientes e especializados, que consigam aplicar, acompanhar e supervisionar as técnicas de Reabilitação Pélvica da melhor forma. Só com esta ajuda poderá também perceber se esta é mesmo a opção certa para si.
Encontra no Instituto da Próstata uma equipa que lhe garante um acompanhamento personalizado, assente numa política de proximidade e transparência. Assim, é provável que as perdas de urina comecem a ser uma realidade distante.